Wednesday, May 8, 2013

Identidade nacional


Na segunda-feira passada, no dia 29 de Abril de 2013, defendi finalmente meu mestrado. Ele tinha como título: NACIONALISMO E IDENTIDADE NACIONAL NAS COPAS DO MUNDO DE 1970 E 1994 NA REVISTA VEJA. 

Já postei textos interessantes que utilizo em minha dissertação e que falam sobre futebol, porém hoje fiquei com vontade de postar algo que não é exatamente futebol, mas tem relação. Em meu primeiro capítulo, falo sobre nação, nacionalismo e identidade nacional. E em um momento cito uma pesquisa feita por Marilena Chauí que me chamou muito atenção. Quero compartilhar com vocês um trecho da minha dissertação no momento que falo sobre isso: 

"Entendemos que, quando um povo se imagina participante da nação é porque acredita ter características em comum. Até hoje procuramos entender quais são as características que nos fazem ser brasileiros. Estudos foram feitos para tentar traçar as características de povo brasileiro e encontrar algo que nos identificássemos como povo. Vamos tentar traçar esse percurso dentro da história brasileira. 
De acordo com pesquisas realizadas em 1995 e citadas pela autora, feitas pelo Instituto Vox Populi e pelo Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas, 60% dos entrevistados afirmavam que sentiam orgulho de serem brasileiros, enquanto somente 4% afirmavam sentir vergonha. Os motivos do orgulho seriam: a natureza, o caráter do povo, as características do país, esportes, músicas, carnaval. 
Dos 60% que se orgulhavam de serem brasileiros, 50% afirmou que o brasileiro apresenta as seguintes características: trabalhador, lutador, alegre, divertido, conformado, solidário e sofredor. Diante disso, Chauí afirma que mesmo sem essa pesquisa, podemos perceber em nosso dia a dia a forte representação homogênea que os brasileiros possuem do país e de si mesmos. 
Essa representação permite, em certos momentos, crer na unidade, na identidade e na indivisibilidade da nação e do povo brasileiro, e, em outros momentos, conceber a divisão social e divisão política sob a forma dos amigos da nação e dos inimigos a combater, combate que engendrará ou conservará a unidade, a identidade e a indivisibilidade nacionais [1]
Dessa forma, Chauí afirma que existe a crença generalizada de que o Brasil é um dom de Deus e da natureza, tem um povo ordeiro, pacífico, generoso, sensual, alegre, mesmo que seja sofredor. Além de ser sem preconceitos, desconhecendo a discriminação racial e de credo, vendo a mestiçagem como padrão fortificador da raça. É também um país acolhedor para todas as pessoas que nele desejarem trabalhar, sendo um país de contrastes regionais devido à sua diversidade econômica e cultural. 
A análise que a autora faz dessa imagem que os brasileiros têm de si mesmos, é a de que “essa representação permite que uma sociedade que tolera a existência de milhões de crianças sem infância e que, desde seu surgimento, pratica o apartheid social possa ter de si mesma a imagem positiva de sua unidade fraterna” [2]." 

Fiquei curiosa: será que ainda nos imaginamos assim como ela descreve? Eu acho que sim. E como isso reflete no futebol? Reflete no fato de que no Brasil, para um time jogar bem, deve dar show, jogar bonito, ter um futebol alegre. Jogadores como Neymar e Ronaldinho Gaúcho, que brincam com a bola, fazem muito mais sucesso que jogadores como o Lúcio e o Dunga. 
Sim, as razões para isso são profundas e um post só não consegue explicar tudo. Posso ir aos poucos falando sobre isso (ou você pode ler minha dissertação heheh). Mas por enquanto gostaria de saber: como você vê o brasileiro? Quais nossas características? E o nosso futebol, atualmente, como é o futebol brasileiro?
Saudações corinthianas (e agora mestre!)

;)



[1] CHAUI, Marilena. Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Editora Fundação Perseu Adamo, 2000. P. 8.
[2] Idem. P. 8

3 comments:

  1. Lucas Trazzi (ainda por ser mestre!)May 8, 2013 at 5:12 PM

    Ola prof. Mestre Talita, tudo bem? Espero que sim.
    Venho por meio deste paabenizá-la por sua pós-graduação. E também comentar o texto do tópico acima, tema sempre controverso em nossas conversas cotidianas.
    Uhn... Gostei da citação da Chaui: “essa representação permite que uma sociedade que tolera a existência de milhões de crianças sem infância e que, desde seu surgimento, pratica o apartheid social possa ter de si mesma a imagem positiva de sua unidade fraterna”. Mas imagino que este trecho não seja bem uma espécie de apologia ao espírito de fraternidade e união do povo brasileiro. Mas talvez algo a respeito da grande capacidade do povo brasileiro em acreditar numa auto-imagem "irreal" e, portanto, "mentirosa" em muitos aspectos.
    Não acho que a grande maioria dos brasileiros se pense assim (até porque isso é propaganda do governo né). Imagino que ele seja impelido a declarar a descrição de sua auto-imagem neste aspecto devido a uma espécie bastante particular de pressão cultural-social, ou mesmo por inaptidão crítica de formular uma própria posição a respeito (ou pelo menos, de dar legitimidade a seu próprio sentimento em relação a nossa condição de brasileiro). Afinal, nos vivemos no país da legitimação.
    De qualquer, o que é público e compartilhado na rua é tudo o que importa, portanto, essa "representação social" padrão do brasileiro é uma ótima referência para estudos no campo da sociologia e da história cultural. Ainda mais se formos ter em consideração a importância do futebol para a manutenção dessa auto-imagem contrastante e contraditória do povo brasileiro.
    Ah, sim, e gostaria de me declarar parte daqueles 4% da população brasileira que se envergonha de ser brasileiro (ou pelo menos, tanto quanto acho que todo os habitante da terra deveriam se envergonhar, hauahuaha).

    Obrigado pela oportunidade de fala. Você é minha corinthiana favorita - nunca achei que ia dizer isso a alguém...! Huahuahua.

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  2. Muito obrigada pelo comentário sr. Lucas ainda por ser mestre heheh.
    Realmente, ela não faz apologia ao espírito de fraternidade, muito pelo contrário. E gostei bastante do seu comentário, acho que provavelmente seja pressão social mesmo. Então, você é um dos que não acha que somos um povo cordial e etc., mas será mesmo que as pessoas por aí não acham? Gostaria de pesquisar isso mais a fundo um dia (talvez seja uma ideia pra um doutorado).
    E eu não vou dizer que você é meu palmeirense favorito porque você sim só se manifesta assim por pressões familiares heheh, então você é, e sempre será meu historiador favorito ;)

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